Assunção de Forma-Deus
Existem três importantes práticas conectadas a todas as formas de cerimônia ( mais dois métodos que discutiremos posteriormente):
a – Assunção de Formas-Deus.
b – Vibração dos Nomes Divinos
c – Rituais de Banimento e Invocação.
Aleister Crowley, Liber O Vel Manus Et Sargitae
A prática mágica está conectada à criatividade, arte, e consequentemente ao teatro. Muitas das cerimônias mágicas são peças teatrais muito bem articuladas, onde os participantes representam um papel importante e as falas, gestos e movimentações são de um profundo significado. Os Oficiais da Golden Dawn representavam papéis dos Deuses Egípcios em muitas das suas cerimônias. É comum em cultos afros os praticantes serem possuídos por seus Deuses assim como em outros cultos do êxtase, apesar dos estudiosos afirmarem que, no Candomblé, por exemplo, o Orixá não é um espírito, e sim uma divindade pessoal do iniciado, representante de uma força subconsciente, de sua ancestralidade e potencialidade. Crowley, em seu Liber O, cita a Assunção de Formas-Deus como a primeira de três práticas que o mago deve ter completo domínio.
Mas o que é assumir a Forma-Deus?
É uma técnica onde o mago irá “vestir-se” na forma de um Deus de sua escolha, irá visualizar-se como essa divindade, comportar-se e falar como Ela. Durante o tempo em que estiver “interpretando” o Deus, o mago realmente deverá ser o Deus, de todas as maneiras, até o fim do ritual (ou interpretação), a identidade do mago irá dissolver-se na imagem da Divindade em questão.
Durante a Assunção Forma-Deus, a visualização deverá ser extrema, bem como a interpretação. Logicamente que o mago deverá ter familiaridade com a Divindade em questão, deverá preparar-se para poder “entrar na personagem”, com certeza um estudo além da internet se faz necessário.
Também é necessária uma finalidade. Cada um dos Deuses possui uma série de atributos que o define, provavelmente não é interessante assumir a forma de Hefesto quando busca-se beleza. Apolo ou Afrodite seriam mais interessantes. Novamente o estudo preliminar é necessário.
E para que seve isso?
Pode parecer estranho, mas a técnica possui inúmeras aplicações e é mais comum do que pensamos. A Yoga possui asanas onde assume-se a postura de determinado Deus, atraindo para o Yogui os atributos desejados. No Candomblé a prática ganha uma roupagem especial, onde há inclusive um treinamento para a mais perfeita execução.
Com a assunção correta da Forma-Deus existe a possibilidade a atrai-se e desenvolver-se os atributos da Divindade em questão, seja para a melhora de determinado atributo da personalidade do praticante, seja para a execução de uma tarefa. Em uma palestra, por exemplo, o palestrante poderia “vestir-se” como um dos inúmeros Deuses da eloquência e comunicação. Para a realização de uma consagração de ferramenta mágica, uma espada, por exemplo, pode-se assumir a Forma-Deus de uma das Divindades artesãs ou guerreiras.
Isso é só imaginação ou realmente invoca-se o Deus?
Essa pergunta possui diversas respostas, não conseguiria explorar todas aqui. Porém, sabe-se que os Deuses são arquétipos da própria psique humana, quem veio primeiro não importa. Há nas divindades um caráter objetivo e subjetivo, uma natureza interior e exterior do próprio ser humano.
Volto ao Candomblé. Os Orixás são arquétipos representantes de forças da natureza, da ancestralidade e da natureza humana. Há uma relação direta entre os Orixás e a personalidade de seus filhos, o que é uma relação direta e subjetiva. Também há uma relação objetiva, onde através dos corretos rituais os Orixás causam mudanças na realidade. O Orixá existe dentro e fora dos iniciados, mas para sua manifestação é necessário que nasça dentro do iniciado. Aqui temos a Assunção de Forma-Deus elevada à sua máxima potência. O Abiã, não iniciado, pode até ter sua consciência tomada pelo Orixá, porém a divindade não irá se expressar, na verdade será uma experiência desagradável ao não iniciado. Quando o mesmo passa pelos rituais da iniciação, com toda sua preparação e ritualística, ele irá tornar-se íntimo desse arquétipo/divindade. Durante os 21 dias de ritualísticas, o Yawo irá aprender sobre seu Orixá, confeccionar seus assentamentos, guias e ferramentas e estará completamente voltado à aprendizagem das características desse Orixá. Todos os dias ele irá ensaiar os passos da dança do Orixá, irá tomar banhos, raspar a cabeça com o obé, sentar-se no aperê, tudo para “dar vida” ao seu Orixá. Cada ritual é para “fazer o Orixá nascer no Ori do Yawo”. Na minha visão é um treinamento extremo da Assunção de Forma-Deus, tanto que o Orixá passa a manifestar-se no corpo do iniciado através do transe, exatamente o que se busca na Magia Cerimonial, talvez com a diferença de comando. Na Magia Cerimonial o Mago não perde o controle momento algum, já nos Sirês o Yawo irá entregar seu corpo para a manifestação do Orixá.
Não é necessário um retiro tão extremo para se chegar os objetivos dessa técnica. Existem outros nuances e informações sobre a iniciação ao Orixá que não são o caso de serem tratadas aqui. Como tudo na vida e na magia, prática é necessária, atingir-se o ápice dessa técnica leva tempo e prática.
E como realizar?
Primeiramente deve-se estudar a divindade em questão, e ela deve estar em consonância com o objetivo a ser atingido.
Após é interessante que o mago prepare seu templo com os elementos de seu Deus, incenso, cores, pedras, imagens, ferramentas, tudo para tornar o ambiente propício. Com o tempo e prática somente a visualização será satisfatória, mas aos iniciantes todos os meios são valiosos. O Liber 777 é muito útil nesse momento.
O ritual não deve ser complicado, deve possuir a sequência: preparação, banimento e execução. Na maioria dos casos não há a necessidade de banir-se a Forma-Deus no final do ritual, principalmente se quiser acessa-la posteriormente, porém o bom senso é crucial.
A execução também é simples. Estando cercado de elementos afins da Forma-Deus, o Mago irá assumir postura física semelhante à de uma figura da Divindade, interessante uma figura clássica e de preferência sentada (facilita a vida). Visualiza-se o Deus em frente ao mago, em cada um dos detalhes, como se estivesse espelhando sua posição. Então o Deus levanta-se e move-se adequadamente com sua personalidade, e como nos filmes ele “incorpora” ao Mago. O Mago agora está “vestido” com a Forma-Deus, qualquer ato que for realizar será o Deus realizando. É boa a experimentação nesse momento, andar, falar, realmente interpretar a divindade, assim ele estará trazendo a mesma para si. Talvez recite um poema, faça um sigilo, realize um gesto, ou uma tarefa desejada.
Ao fim do ritual o Mago deve aos poucos voltar a ser ele mesmo, deixar de ser o Deus e tornar-se novamente ele em seu mundo profano. Pode-se “absorver” a Forma que se veste, ou vê-la saindo e desaparecendo. Essa mesma imagem pode ser utilizada em outro momento, sem ritualística, durante a vida profana, quando houver a necessidade das características do Deus em questão.
É possível de outras maneiras?
Sim é. Mas não é o caso para iniciantes assumir formas bestiais ou de ícones da cultura pop. Claro que pode-se assumir a forma do Spock para lógica e racionalidade, ou de uma besta para agressividade e destruição. Mas lembre-se que ambas as realidades, objetiva e subjetiva, consciente e inconsciente, caminham juntas, você pode estar trazendo algo de fora ou de dentro que não vai saber lidar.
Essa prática, apesar de básica, possui inúmeras finalidades e será sempre usada. Mais para frente uma técnica semelhante pode ser usada para a Criação de Corpo de Luz/Trevas e Projeção Astral. Acostume-se a visualizar os Deuses, símbolos e cores, isso vai ser muito útil adiante.
Autor: Akin
Postado originalmente no Platinorum
Francesca Barnett